Vëlla - Coma


Os Vëlla devem ter sido o segredo mais bem guardado do underground nacional nos últimos tempos. Com um marketing atípico onde começaram pelo merchandising ainda antes de passarem para fora uma música, foram construíndo uma aura misteriosa em torno da banda que começa agora a ser desvelada, com o lançamento do álbum em streaming nas plataformas digitais e com o concerto de estreia aí à porta.

Durante o tempo que antecedeu a saída de “Mannequin” (primeiro tema/vídeo a ser disponibilizado), devo confessar que tinha em minha mente que este projecto iria seguir o caminho traçado pelos Legacy Of Cynthia (LoC), banda de onde vieram Oz Vilesov e Caesar Craveiro. Tal não se revelou despropositado pois encontro nesta faixa pormenores comuns, quer seja no ritmo ou até mesmo nas vocalizações, mas especialmente pela composição. Depois de escutar o álbum na íntegra, o ter ouvido apenas este tema foi o clássico caso de “música fora de contexto”; mantenho as semelhanças com os LoC contudo todo este “Coma” revela-se uma manta de retalhos musicais, cosida de várias influências e rematada com pequenos mas deliciosos pormenores.

Dos 12 temas que compõem o álbum alguns criam momentos singulares que podem ser interpretados como instantes musicais, pontos de reflexão ou simplesmente “fillers”; eu prefiro vê-los como rasgos de criatividade simples que permitem assimilar o que entretanto foi ouvido, ao mesmo tempo que deixa espaço e vontade para o que ainda falta ouvir. Por exemplo, a faixa introdutória “Blood On The Table” dá a entender que estamos prestes a entrar numa dimensão diferente, uma espécie de viagem interdimensional que no fundo vai de encontro à premissa de criação de um trabalho que se torne intemporal (o tempo o dirá) mas sobretudo de deleite musical. “1984” é outro daqueles momentos “out of the box”, este de toada mais electro goth ao estilo NIN que serve de antecâmara a uma “Despair” com uma toada mais up tempo que mantém a electrónica ao mesmo tempo que acrescenta peso e melodia (na parte do coro, esta faixa faz-me lembrar Wrath Sins). Em “5 Minutes Alone” é curioso que a escolha recai novamente numa sonoridade mais eletrónica mas acaba por ser a sample da criança a rir que atrai toda a atenção. É como que a dizer que só precisamos de 5 minutos de introspecção e calma para podermos sorrir por dentro e assim ganhar forças para continuar, ao estilo de mantra motivacional.

Para este álbum foram também convidados alguns músicos do underground nacional. A primeira faixa é “The Promise” que conta com a voz de Miguel Inglês (Equaleft) numa toada muito ao seu estilo, death groove com compassos marcadamente fortes e com o pormenor do sintetizador que lhe dá um toque mais épico. “Tormento” é o segundo tema com convidados, aqui com as vozes de Ana Marques e Ariana Pereira. Para além de ser cantada em Português (curioso que o refrão continua a ser em Inglês), a lusitanidade está presente no lirismo e nas raízes do fado que tornam esta faixa numa ode a um povo e ao seu sentimento muito único, Saudade. “I’ll Be The End” é a última faixa do álbum e também a última com convidado. Aqui coube a André Ferreira (Wild Maui) emprestar a sua voz a um tema que se foca no desprendimento das amarras (sejam elas quais forem) que nos impedem de seguir em frente. Este registo fica depois completo com mais 2 temas: “The Fall” é uma faixa death/thrash que flui numa toada mais up tempo e com bateria forte, abrandando na parte do refrão e deixando espaço para um dos solos de maior destaque no álbum; “Otherside” segue o mesmo ritmo mas aqui com maior predominância nos ganchos de guitarra e breakdowns.

É difícil não encontrar neste trabalho influências várias, fruto da experiência musical dos seus intervenientes. Mais importante do que destacá-las é dar ênfase a um conjunto de ideias que, em torno de uma sonoridade de pendor death/thrash de vertente mais melódica, ganham corpo pela assimilação da variedade e desprendimento de concepções, acabando por se moldar em algo que se mantém “discordante” mas coeso.

\m/


Vëlla must have been the best kept secret of the Portuguese underground in recent times. With an atypical marketing where they started by merchandising even before passing out a song, they started building a mysterious aura around the band that is now being unveiled, with the release of the album in streaming on digital platforms and with the debut concert just ahead.

During the time that preceded the release of “Mannequin” (first theme/video to be made available), I must confess that I had in my mind that this project would follow the path traced by Legacy Of Cynthia (LoC), the band from which Oz Vilesov and Caesar Craveiro came. This was not unreasonable as I find common details in this track, whether in rhythm or even in vocalizations, but especially for the composition. After listening to the album in its entirety, having heard only this theme was the classic case of “music out of context”; I keep the similarities with the LoC however this whole “Coma” is revealed as a patchwork of musical pieces, sewn with various influences and finished off with small but delicious details.

Of the 12 themes that form the album, some create unique moments that can be interpreted as musical moments, reflection points or simply “fillers”; I prefer to see them as characteristics of simple creativity that allow to assimilate what has been heard in the meantime, while leaving space and will for what remains to be heard. For example, the introductory track “Blood On The Table” suggests that we are about to enter a different dimension, a kind of inter dimensional journey that basically meets the premise of creating a work that becomes timeless (only time will tell) but above all of musical delight. “1984” is another one of those “out of the box” moments, this one with a more electro goth tone in the NIN style that serves as an antechamber to a “Despair” with a more up tempo tone that keeps the electronics at the same time adding weight and melody (in the chorus part, this track reminds me of Wrath Sins). In "5 Minutes Alone" it is curious that the choice falls again in a more electronic sound but it turns out to be the sample of the laughing child that attracts all the attention. It is as if to say that we only need 5 minutes of introspection and calm to be able to smile inside and thus gain strength to continue, like some type of motivational mantra.

Some Portuguese underground musicians were also invited to this album. The first track is “The Promise” which has the voice of Miguel Inglês (Equaleft) in a tone very much like his, death groove with markedly strong measures and with the detail of the synthesizer that gives it a more epic touch. “Torment” is the second theme with guests, here with the voices of Ana Marques and Ariana Pereira. In addition to being sung in Portuguese (curious that the chorus remains in English), lusitanity is present in the lyricism and roots of fado that make this track an ode to a people and their very unique feeling, Saudade. “I’ll Be The End” is the last track on the album and also the last with a guest. Here it was up to André Ferreira (Wild Maui) to lend his voice to a theme that focuses on detaching the bonds (whatever they may be) that prevent us from moving forward. This record is then complete with 2 more themes: “The Fall” is a death / thrash track that flows in a more upbeat tempo and with strong drums, slowing down in the chorus and leaving space for one of the most prominent solos on the album; "Otherside" follows the same rhythm but here with a greater predominance in guitar hooks and breakdowns.

It is difficult not to find various influences in this work, the result of the musical experience of its participants. More important than highlighting them is to emphasize a set of ideas that, around a more melodic slanting death/thrash sound, take shape by assimilating the variety and detachment of conceptions, eventually molding into something that remains “discordant” but cohesive.

\m/

Sem comentários:

Enviar um comentário